Referentes de María das Dores Arribe Dopico
Rivero, Manuel - lunes, 28 de abril de 2025
Lola choraba a perda dos seus referentes e perpetuaba a súa memoria: Carvalho Calero, Rafael Dieste, Juan Malde, Benjamin Moloise, forom algúns dos escolhidos:
Pranto por Rafael Dieste
Por que vos vades todos?
É a pregunta que fazemos hoje com tristura todos os galegos, coa tristura todos os galegos; coa tristura que produz na Galiza a vossa desapariciçom.
Por qué vos vades todos?
Cumpría agardardes um pouco para nom deixardes esses vazíos que ainda ninguém pode encher.
Longa é a série dos grandes desaparecidos em ben pouco tempo: Blanco Amor, C. E. Ferreiro, Luís Seoane, Cunqueiro... e agora ti, Rafael Dieste.
Trágico destino o da mai Galiza condenada a viver privada da presença dos seus melhores filhos, dos mais nobres, dos mais preclaros. Siempre longe dela ainda que sempre presentes en espíritu.
Por qué os vades todos?
Os tempos ainda nom som chegados. Os que tinham que colher das vossas mans o facho aceso nom estavam devidamente prevenidos.
Deixades-nos, e sentimos a mágoa da orfandade. Um povo nom pode perder a sua voz sem sentir-se ferida na sua alma. Érades a nossa voz colectiva. Expressávamo-nos colectivamente nos vossos livros. Por medio das vossas obras outras gentes e outros povos conhecerom a Galiza e os galegos.
Por qué vos vades todos?
Um povo sem poetas, sem artistas, sem intelectuais honestos e rigorosos é um corpo sem coraçom e sem alma, sem fala e sem cabeça; nom é nada. Por isso a Galiza inteira resiste-se a perder-vos e chora por vós.
Por qué vos vades todos?
Será, talvez, que essa voz inexorável que chama fatálmente a cada home, vai soando também para vós, sem respeitar quem sodes?
A morte cega, Rafael Dieste, nom viu que levavas o sinal dos que estám chamados a permanecer.
Arrancarom-te duas veces do teu Povo, mas a tua obra e o teu espíritu ficam conosco, E por termos a segurança de ser isto assi ainda temos esperança.
Já estás a formar trío com os outros dous grandes rianjeiros: Manuel Antonio e Castelao. Saiiríam, sem dúvida, a recebe-rte cheos de lediça. Viria saudar-te também um pouco mais tarde, pois vem de mais loncge, Paio Gómez Charinho, primeiro Senhor de Rianjo, e pidería-che notícias da vila do seu antiguo senhorio. Estás, pois entre amigos, homes que coma ti amarom o mar e amarom a nosa terra.
Rafael Dieste, hoje os galegos choramos a tua desapariçom embora sabemos que os homes como ti nom morrem nunca. Nom podedes morrer os que nacestes imorredoiros.
María das Dores Arribe Dopico (Ferrol, outubro 1981)
Ao Maestro Juan Malde
(in Memoriam)
Ainda dançam no ar aquelas notas
que com mao tam experta dirigia,
os ecos das saudosas melodias
cantadas, com primor, para umha moça.
Ainda ficam no vento esses acordes
que sairon da sua fantasia,
combinados em doces harmonias,
matrimónio de cordas e de vozes.
Ainda se lembra a lua da "rondalla"
que as ruas da cidade percorria
despertando esperança e alegria
entre o povo singelo que a escuitava.
Ainda sussurra o mar a barcarola
"Olha como vai!", com teimosia,
quando cruza, na luz do meio-dia,
a brancura gentil de umha gaivota.
E Ferrol nom esquece ao seu Maestro
que tocava o piano e componhia,
ensinava, ensaiava... porque a vida,
sem a música, nom lhe tinha jeito.
María das Dores Arribe
Em Ferrol, o dia 21 de Junho de 1993
(Barcarola). Segundo a nossa Lírica Medieval.
APARTHEID
(Na morte de Benjamim Moloise, Outubro de 1.985)
A Elvira Souto Presedo, irmá na luita.
O branco, poderoso, frustrou, o teu destino.
Os pretos, impotentes, amassam dor e raiva.
Neste meu coraçom, por ti, dobram os sinos.
E choran-te os meus olhos, poeta assasisinado.
Meu irmao Benjamim, a última palavra
nom morreu, na alvorada, afogada na gorja.
Os teus versos, semente de vida e de esperança,
vam resurgir, viçosos, o dia da vitória.
Para os povos escravos sinalache o caminho:
defender, até a morte, a própia dignidade.
O teu corpo, na terra, seguirá produzindo
colheitas de justiça e a flor da LIBERTADE.
Maria das Dores Arribe

Rivero, Manuel