A Criação poética de Guerra da Cal
Rivero, Manuel - lunes, 25 de noviembre de 2024
A sua poesía é íntima, cálida, serena, profunda, sensorial e agradecida. Guerra da Cal tece os textos com os fíos do respeito, da métrica, a sonoridade, a qualidade, o colorido e o impacto visual: de forma sutil aparece um cosmos com múltiplos matizes, que ensancham a sua grandeza. É capaz de criar un cenário virtuoso e sublime, onde os sentidos enchem-se de gozo e de mística beleza.
Foi-me difícil fazer uma pequena escolha; recolho cinco poemas Três de fonda espiritualidade e dous de amor, um à Terra e outro sensorial, com matizes eróticos.
No Poema intitulado "Sina" diz-se nascido sob a estrela de Santiago, que ele crê assinalar todo o seu caminhar vital:
SINA
Eu fui na Galiza nado,
reino que tem por orago
o irmão de Cristo, Santiago,
apóstolo padroeiro
de todos os viajeiros
e romeiros,
e divino
peregrino
da sua própria Compostela,
nas terras do Finisterra
magno evangelizador.
E nasci sob essa estrela.
Por isso vou caminhando,
coa minha roda rodando,
na gaitinha assobiando
e afiando
facas, tesouras, cutelos
de sonhos e pesadelos
à roda do mundo toda,
vagamundo amolador (1).
Em "Peregrinagem final" vê a sua alma peregrinando a Compostela na derradeira viagem:
PEREGRINAGEM FINAL
A Eduardo Portella,
que leva a Galiza no sangue.
Na noite de lua cheia
em que me visite a Morte
irei para Compostela.
Ultreya!
Sobre o mar e sobre a terra,
por um vieiro astral de leite,
arribarei na outra ourela.
Et sus eja!
E a sombra da minha alma
vagará pela cidade,
peregrina aluarada,
ultreya!
errabunda e silandeira,
procurando o seu acougo
pela alta noite sidérea,
et sus eja!
até encontrar numa estrela,
baixo o sorrir de Santiago,
moradia jacobeia.
Ultreya!
Para Compostela irei
quando a morte me visite
numa noite que eu já sei! (2)
No poema "Conselho de amigo" fala do cultivo do amor e a sua incidência nas dualidades futuro-eternidade e vida-morte.
Conselho de amigo
Cultiva o teu futuro
com amor
porque ele é o lugar
onde tens que passar
o resto da tua vida
Cultiva Deus
com um amor
ainda maior
porque
com sorte
com Ele irás passar
o resto da tua morte (3)
Estoril, 1984
No poema "Ontem de cor e água", canta ao território entre os ríos Lor e Sil, que no abril alegres vão oa encontro com o pai Miño, cheios de colorido e de águas mil.
Ontem de cor e água*
Ao Novoneyra, cantor do Caurel
Do Lor ao Sil
que verdor
de orvalho
no mês de abril!
Do Sil ao Lor
que
tremor febril
de cor
ouro, esmeralda e anil
no langor
já de flor primaveril
do
sol-pôr!
Do Lor ao Sil
em
abril
que
rumor
de um orvalha
de águas
mil! (4)
No poema "Andante Em Verde Maior Para Violino E Coração" ao mais puro estilo trovadoresco canta à sua amada a paixão que por ela sente.
Andante
Em
Verde Maior
Para
Violino E Coração
No fundo azar dos teus olhos
sinto que vou me afogar
por ser verdes
bem mais verdes
que as verdes ondas do mar.
Afundo nas águas verdes
do teu limpo verde olhar
penetrando
o mundo verde
da tua alma
a
verdejar.
Teu corpo é verde paisagem
de primavera a brotar
uma flor verde
teu sexo
teus seios
verdes maçãs.
Todo o teu amor é verde
verde de nunca secar
verde perene
de vida Verde
para me matar! (5)
Janeiro, 1979
NOTAS:
1 De Futuro Imemorial (Manual de Velhice para Principiantes), Lisboa: Livraria Sá da Costa.
2 Do poemário Lua de Além-Mar; na 2ª edição, da AGAL, 1991, o poema acha-se na página 130.
3 Guerra da Cal: Breve Antologia Poética / Ernesto Guerra da Cal. Editado por Carlos Durão. Disponível em http://guerradacal.academiagalega.org. Pág. 47.
Editado pela Academia Galega da Língua Portuguesa no quadro das Comemorações do Centenário do Nascimento do Professor Ernesto Guerra da Cal (1911-1994). Santiago de Compostela, abril de 2011.
4 Este poema foi publicado primeiramente em: Papeles de Son Armadans. Madrid Palma de Mallorca, 1961, no LXIII, junio, págs. 274-275. Acompanhado de ver são castelhana da autoria de Celso Emílio Ferreiro. Reproduzido em La Voz de Galicia, Corunha, 1985, 11 de junho, pág. 2. Disponível em http://guerradacal.academiagalega.org. Pág.33.
5 Incluído como tal na p. 389 de Temas d'O Ensino, nos. 27-38, Ponte Vedra-Braga, 1991-1994, volume de homenagem a Guerra. Disponível em http://guerradacal.academiagalega.org. Pág. 85.

Rivero, Manuel