Os poemas que nos inercambiamos no confinamento (XIII)
Sampedro, Pilar - miércoles, 15 de julio de 2020
Porque aínda hai vellos que coidan doutros máis novos, porque quen sabe de coidados son eles, especialmente elas; por iso nos gusta aínda máis que sexa un home quen tira da cadeira de rodas. Pertence a esas xeracións educadas no valor de asistir aos propios, os coidadores de sangue, as familiares que atenden aos máis novos e maiores
Cuesta de Atocha de Joan Margarit, do libro Trabajos de amor y otros poemas
Ellos dos van subiendo y nos cruzamos:
en la silla de ruedas,
sentado y encogido, solloza un hombre joven.
El padre, que la empuja,
echa hacia atrás los pies y, para hacer más fuerza,
estira cuanto puede las piernas y los brazos.
Así, encorvado y tenso,
puede vencer apenas la subida.
Sé lo que siente: que se ha hecho
viejo. Por un maldito instante
compadezco a ese padre: un error,
puesto que él todavía tiene a su hijo.
Esbozo una sonrisa mientras van alejándose.
Desde un portal,
una mujer me mira con reproche.
No comprende en qué escena de amor se está metiendo.
Ese verso final é unha grandeza! Conclúe e envolve o relato da escena deixándonos unha pregunta no aire ou unha suposición: quen escribe, perdeu ao seu fillo?
Así é a poesía, unha depuradora de sentimentos, un xenerador de interrogantes, unha campá que retumba no peito.
Atravesamos o Miño e viaxamos ao país veciño para atopar a Pessoa e un poema que nos le a nós mesmas en determinadas circunstancias.
Adiamento de Álvaro de Campos. Fernando Pessoa
Depois de amanhã, sim, só depois de amanhã...
Levarei a manhã a pensar emdepois de amanhã,
E assim será possível; mas hoje não...
Não, hoje nada; hoje não posso.
A persistência confusa da minha subjectividade objectiva,
O sono da minha vida real, intercalado,
O cansaço antecipado e infinito,
Um cansaço de mundos para apanhar um eléctrico...
Esta espécie de alma...
Só depois de amanhã...
Hoje quero preparar-me,
Quero preparar-me para pensar amanhã no dia seguinte...
Ele é que é decisivo.
Ten hojá o plano traçado; mas não, hoje não traço planos...
Amanhã é o dia dos planos.
Amanhã sentar-me-ei à secretária para conquistar o mundo;
Mas só conquistarei o mundo depois de amanhã...
Tenho vontade de chorar,
Tenho vontade de chorar muito de repente, de dentro...
Não, não queiram saber mais nada, é segredo, não digo.
Só depois de amanhã...
Quando era criança o circo de domingo divertia-me toda a semana.
Hoje só me diverte o circo de domingo de toda a semana da minha infância...
Depois de amanhã serei outro,
A minha vida triunfar-se-á,
Todas as minhas qualidades reais de inteligente, lido e prático
Serão convocadas por umedital...
Mas por umedital de amanhã...
Hoje quero dormir, redigirei amanhã...
Por hoje qual é o espectáculo que me repetiria a infância?
Mesmo para eu comprar os bilhetes amanhã,
Que depois de amanhã é que está bem o espectáculo...
Antes, não...
Depois de amanhã terei a pose pública que amanhã estudarei.
Depois de amanhã serei finalmente o que hoje não posso nunca ser.
Só depois de amanhã...
Tenho sono como o frio de um cão vadio.
Tenho muito sono.
Amanhã te direi as palavras, ou depois de amanhã...
Sim, talvez só depois de amanhã...
O porvir...
Sim, o porvir...
Porque nos entran ganas de pospoñer. Porque andamos cansos sen saber as causas ou si: falta de aire e verde. Porque nos deixamos ir e poucas cousas nos teñen interese. Mañá, será outro día!

Sampedro, Pilar
Las opiniones expresadas en este documento son de exclusiva responsabilidad de los
autores y no reflejan, necesariamente, los puntos de vista de la empresa editora