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A Xanela
Outono 2001
Sotavento
Não sei se
alguma ave inquieta
ou cálida aragem
me arrebatou no sonho
Não sei de que
vulnerável manto
se cobre a alma
quando voa longe
Não sei que
transitórios passos
fizeram este caminho
de tanto sol
de tanto mar
de tanta cal
Apenas sei que
deve ser esse o lugar onde
o poema e o sangue
viajam sob a mesma pele.
LETRAS DE PORTUGAL
Margarida Parreira Alves
O CASACO A camisa, uma gravata de duas cores
e esta agonia (espécie de contentamento)
do outro lado do muro
para onde poucos olham
o homem veste pela última vez
um murmúrio, a inocência nos olhos
um lençol que se estende
a todo o campo
o hóspede abandona a casa, para sempre
esquecendo até que fora recebido
minutos depois de uma morte
- uma porta entre muitas
não reclama dentro do coração
a sombra a tapar metade da fotografia
desta cidade guardo a data de nascimento
um telhado, uma figura na neblina
as crianças correm para o rio
mesmo que fique a cem quilómetros de distância
o medo permanece, mesmo nos melhores livros
abre a janela, ao fundo do bosque
entreolha essa gota de suor
vem mostrar um rosto quase escondido
a música, uma ponte que não termina
e só assim alcança esta margem
Ruy Ventura
Ilustracións:
OLAIA