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A Xanela
Outono 2000
Pepetela é o pseudónimo literário de Artur Car-
los Pestana dos Santos, nascido em Benguela a
29 de Outubro de 1941. Pepetela, na língua
umbunda (idioma nacional angolano) significa
pestana.
Conjuntamente com Luandino Vieira, Pepetela
é considerado um dos mais importantes narra-
dores dos PALOP. Enquanto Luandino se tem
mantido literariamente calado, após a
independência, Pepetela, pelo contrário, tem
trazido a lume interessantes e inquietantes obras,
que nos últimos anos reflectem um certo desen-
canto, sobretudo após a publicação do romance
"A Geração da Utopia".
Ler a sua obra é conhecer um pouco ou mesmo
muito, da História passada e recente de Angola.
A sua linguagem é acessível a qualquer falante
de portugês esteja ele onde estiver. Embora
possua certas particularidades lexicais e
sintácticas próprias da realidade angolana, não se afasta do português padrão europeu.
Senhor de uma vasta bibliografia, onde, entre muitos se destacam romances (Mayombe, Yaka, Lueji, A
Geração da Utopia), narrativa poética (Muana Puó), novela picaresca (O Cão e os Calús) e teatro (A Corda, A
Revolta da Casa dos Ídolos). Pelo conjunto da sua obra, foi em 1996, galardoado com o Prémio Camões, a
maior distinção que um escritor de expressão lusófona pode almejar.
Manuela sorriu-me e embrenhou-se no mato,
no mato denso do Amboim, onde despontava o
café, a riqueza dos homens. O café vermelho
pintava o verde da mata. Assim Manuela pintava a
minha vida.
Manuela, Manuela, onde estás tu hoje? Na
Gabela? Manuela da Gabela, correndo no mato do
Amboim, o mato verde das serpentes mortais,
como o Mayombe, mas que pare o fruto vermelho
do café, riqueza dos homens.
Manuela, perdida para sempre. Amigada
com outro, porque a deixei, porque Manuela não foi
Literatura angolana:
vamos conhecê-la?
(IV)
Namibiano Ferreira
A narrativa
Pepetela
suficientemente forte para me reter no Amboim e
eu escolhi o Mayombe, as suas lianas, os seus
segredos e os seus exilados.
Perdi Manuela para ganhar o direito de ser
"talvez", café com leite, combinação, híbrido, o que
quiserem. Os rótulos pouco interessam, os rótulos
só servem os ignorantes que não vêem pela colo-
ração qual o líquido encerrado no frasco.
Entre Manuela e o meu próprio eu, escolhi
este. Como é dramático ter sempre de escolher,
preferir um caminho a outro, o sim ou o não! Porquê
no Mundo não há lugar para o talvez? Estou no
Eu, o narrador, sou teoria.
PALOP´S